Masné Krámy
Até por uma questão de justiça, tenho que falar sobre esse restaurante. Isso pq muitos domingos passo por lá para almoçar. Primeiro pq tem cardápio com descrição dos pratos em inglês, depois pq alguns garçons “falam” inglês e, por fim, pq a comida é boa também. Masné Krámy quer dizer “mercado de carnes” e o nome do restaurante é referência aos antigos estabelecimentos que lidavam com carne (acho que deveriam ser tipo açougues e ao mesmo tempo matadouros “dos antigamentes”). Segundo diz a história, descrita no cardápio deles (se é verdade verdadeira, não sei), os mercados eram estruturas de madeira próximas à praça central daqui da cidade, inclusive perto do local do restaurante hoje, e os primeiros registros são de 1336. Em 1364, um dos reis daqui, Karel IV (que quer dizer Carlos IV; nome lorde!), mandou demolir os tais “masné krámy”, pq representavam “perigo para a saúde”. Agora imagina aí: pra alguém chegar a essa conclusão em mil, trezentos e tanto, é pq a coisa devia ser medonha! Esses mercados mudaram de lugar algumas vezes. Inicialmente foram para regiões onde viviam muitos “açougueiros”, mas ainda tinham estruturas construídas em madeira. Mais tarde, no século 16, essas casas de carne foram novamente remodeladas e passaram a ser de tijolos, mas com o surgimento de matadouros “modernos”, principalmente me Praga, esses mercados daqui foram caindo em desuso. Os prédios foram sendo demolidos ou servindo para outras coisas e foram sumindo com o tempo, mas alguns deles foram preservados. É o caso desse restaurante. Muita coisa mudou, é verdade, mas ainda sobraram algumas paredes e o portão duplo da entrada é o mesmo de 1830 mais ou menos. O ambiente foi, óbvio, totalmente renovado e o interior é bem agradável. Quase sempre está cheio de gente. Talvez seja o restaurante mais famoso de České Budějovice; fácil encontrar grupos de turistas aqui, principalmente alemães e austríacos. A qualidade do atendimento varia: tem dia em que os garçons são mais atenciosos, tem dia em que os caras somem e é difícil de encontrar, mas no geral dá pro gasto. Lembrem-se que o cardápio aqui é em inglês e, como já disse antes, isso é uma vantagem enorme. Pedir algo com base em um cardápio que vc não entende quase nenhuma palavra é risco grande de morrer numa grana e ficar de barriga vazia. E olha que até o inglês pode pregar peças. Outro dia, já estava sentado há algum tempo com o cardápio na mão, mas meio sem ideia do que pedir. O garçom veio uma vez, eu pedi pra esperar. Veio a segunda, pedi pra esperar. Na terceira, fiquei com vergonha e mesmo sem saber o que queria, corri os olhos nas entradas e vi “head cheese”. Não conhecia, mas preço bom, “cheese” é queijo, beleza. Pedi isso e uma cerveja, pensando em ganhar tempo para escolher o prato principal. Quando chegou o dito-cujo, vi que não era queijo. Era um tipo de “fatias de um bolo feito de pedaços de carne, gelado e com gelatina”; soou bem a coisa? Fiquei olhando aquele troço e pensando o que fazer: reclamo, não reclamo... Pensei na confusão e decidi comer (lei do menor esforço). O gosto era estranho, ainda mais pq eles enchem o prato de vinagre (outro costume por aqui) e o aspecto, meio nojento. Comi o que pude, ajudado por um pedaço de pão preto. Quando voltei para “casa”, fui ao Dr. Google pra ver o que era o tal prato: realmente é um bolo de carne com gelatina e as carnes são da cabeça, coração, fígado, rim, pâncreas e sei lá mais o que do porco. Nasceu pra tatu...Quem mandou não falar inglês direito?!! No mais, a comida é boa. Aqui eles consomem muita coisa como picles, principalmente como entrada ou apenas para acompanhar a cerveja; já vi salsichão, “head cheese” J, salsicha/linguiça e até queijo Camembert, vê se pode! Tudo com muito vinagre e cebola. Mas a melhor entrada de todas (que sozinha é quase um prato principal) é uma porção de salsicha/linguiça (não dá pra saber bem a diferença) com um molho de cebolas e cerveja preta; é de lamber o prato. Esse eu vou tentar reproduzir e fazer aí no racha, viu Rei Carlão I de Pacaembu, meu parceiro de aperitivo? Muito bom. O forte no “Masné Krámy” são as carnes. As mais comuns são as de porco (lombo, costela, joelho), mas rola também peru, galinha e, bem menos, boi. Já experimentei vários pratos e são sempre bons e quase nunca acompanhados de arroz (aliás, não comi arroz nenhuma vez desde que cheguei aqui). Nos pratos, os acompanhamentos mais comuns são pães, batata e, mais ainda, os bolinhos (massa de pão ou de batata). O restaurante é do mesmo grupo da cervejaria “Budweiser Budvar”, então essa é a cerveja que tem por lá. A que mais gosto entre as variedades de lá é uma que eles chamam de speciální pivo (ou também super strong) que é uma garrafinha de 300 ml e a cerveja tem 7,2 graus de álcool; demora 250 dias para ficar pronta! Mas os canecões de cerveja clara e escura também são ótimos; a fábrica fica a 1 km de distância e isso ajuda muito!!! Nos domingos aproveito pra comer e passar um pouco de tempo fora da minha “cela” e aqui tem movimento e até telões com diferentes esportes que eles assistem nessa terra. Tem uma coisa legal nesse restaurante no banheiro masculino; não sei se tem algo parecido no feminino (é interessante imaginar!). Quando vc chega perto do urinol (lindo isso!), vc vê dentro dos “penicos” uma telinha verde que imita um campo de futebol, com uma trave e uma bolinha pendurada no travessão. É bacana pq vc sempre quer ficar acertando na bolinha, então não suja tudo em volta; inteligente. Agora, serve também pra vc dar uma avaliada no “teor alcoólico”: se só der “bola fora”, é bom parar e chamar um táxi pq já bebeu demais! Abraços, pessoal. Ahoj.
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