Praga (agora sim), mas voltando...
Faz uns dois dias que estou em Praga. Nem vou perder tempo falando alguma coisa dessa cidade, pq iria ser um texto longo, muito longo. Quem quiser é só fazer uma busca rápida na internet e vão chover informações. Acho que vale apenas ressaltar que essa é uma das cidades mais lindas do mundo. A visita a esta cidade produz aquelas lembranças que duram pra sempre e vc fica “bobão” cada vez que começa falar sobre o que fez, o que viu... Se houver alguma chance ou oportunidade de conhecê-la, recomendo não perder.
Bem, meu tempo aqui acabou. Estou voltando pro meu lugar depois de pouco mais de dois meses e meio; pode não ser muita coisa, mas pra um sujeito como eu, é bastante “chão”. E acho que agora é hora de desabafo; pode até ficar meio esquisito, mas queria aproveitar pra dizer coisas que não costumo dizer sempre. Durante esse período, trabalhei bastante, aprendi coisas novas, melhorei meus conhecimentos específicos, enxerguei novos caminhos para o meu trabalho e vi que não somos tão ruins assim. Temos condições equivalentes (ou melhores) do que as dos lugares que visitei. Agora tenho mais contatos para colaborações nas pesquisas que faço e os intercâmbios devem ser mais frequentes. Esses foram os principais objetivos de minha estadia por aqui, e foram bem cumpridos. Nesse meio tempo, tive oportunidade também de conhecer e usufruir de diferentes lugares, costumes e culturas; algumas dessas experiências eu contei aqui no blog. Mas não foi um período fácil. A primeira dificuldade foi a comunicação. Minha “base” foi uma cidade “de interior”, sem grandes atrativos turísticos, e por isso, comunicação nas ruas praticamente não existiu ou foi sofrível. Na universidade, embora alguns falassem inglês, eu conversava mesmo com o cara que me recebeu e um ou outro professor, mas mesmo assim, em todos os casos, esporadicamente e apenas sobre trabalho (tirando uma ou outra exceção). Assim, se por um lado foram dias bons em alguns sentidos, estive praticamente sozinho todo esse tempo. Quando digo sozinho, quero dizer sozinho mesmo; horas ou até dias sem abrir a boca. Não foi exatamente um período alegre e feliz pra mim; fiz pq em um momento achei que seria bom, principalmente do ponto de vista profissional. Foi muito legal ver os posts de vcs e as referências a mim. Da mesma forma, escrever os textos para o blog foi uma forma de estar perto dos amigos, pessoas que me fizeram falta durante esses dias. Não sei se alguém leu o que escrevi ou se valeu alguma coisa pra alguém, mas com certeza que valeu pra mim; as horas que passei escrevendo, passei com meus amigos e consegui encontrar algum conforto e até fazer piadas, mesmo estando meio triste. Não preciso nem dizer o tamanho da falta que senti da minha família. Costumo dizer que nem saudade é a mesma hoje em dia. O tal do skype ajuda muito a diminuir esse sentimento; vc conversa olhando pra pessoa. Mas mesmo assim a saudade vem. Acho que a ideia da distância, por outro lado, acentua esse sentimento. Senti falta de meus parentes mais próximos: mãe, pai, irmãos e por aí vai. Foi muito difícil ficar sem meus filhos por perto. A Bruna e o Vítor não estavam entrando e saindo pela porta de casa ou brincando ali no quartinho. Nem o Caio, que já tem sua vida própria, apareceu a cada quinze ou vinte dias pra dar um abraço. Não sei como dimensionar a saudade senti da Claudia. Acho que não passou uma manhã ou tarde ou noite sem que eu me lembrasse dela por várias vezes, não houve um lugar em que deixei de querê-la por perto, dividindo e experimentando as coisas comigo; essa é, haja o que houver, a mulher que amo, a mulher da minha vida.
Outro dia, minha avó, 94 anos e ainda muito lúcida, disse-me que a vida não é boa. Pelo contrário, a vida tende a ser “malvada”, mas com alguns momentos e algumas “coisas” boas ao longo do caminho. Achei meio amargo e não sei se concordo muito com isso, mas faz algum sentido. Com certeza, a vida muitas vezes não é do jeito que queremos que ela seja e temos que saber aceitar os reveses e as perdas (que ocorrem sempre e por vezes doem demais e por muito tempo). Até por esse motivo algumas “coisas” acabam sendo especiais e têm que ser mais bem aproveitadas e mais bem cuidadas; nós todos devíamos saber, e praticar, isso. Às vezes (ou muitas vezes) nos importamos demais com coisas pequenas, que realmente não fazem diferença, são bobagens, e isso atrapalha muito a vida, deixando-a ainda mais “malvada”. Impossível saber o que vai acontecer no futuro, mas hoje, mais do que há dois meses e meio, acho que sei melhor o que é realmente importante.
Amigos, espero estar por aí para o próximo “Os Barnaquinta”, sentado no lugar do pirulito com meu cabeção. Ahoj. Tchau.
P.S. Não podia deixar de registrar dois momentos especiais que vi em Praga. O primeiro é o mercado de natal central, com uma linda árvore decorada e um coral de crianças cantando músicas natalinas. Segue um vídeo curtinho pra dar uma ideia. O outro é sobre a dor da saudade; o ato desesperado de um homem tentando encontrar um amigo, uma pessoa que lhe ajudou um dia na vida. Realmente emocionante.