Aí não, mas aqui se faz!
Durante viagens longas como essa que estou fazendo, é natural começarmos a perceber as diferenças com nosso lugar de origem. Aqui em České Budějovice tem muitas coisas que são pouco comuns por aí, embora também possam ser vistas em outros lugares da Europa. Nós do “Os Barnaquinta”, por exemplo, temos um manual de etiqueta, que, por enquanto, tem um item só: o brinde. Colocamos as cervejas nos copos, brindamos (saúde!) e, sem colocar o copo na mesa, tomamos um farto gole da bebida. Coisa de lorde. E se colocar o copo na mesa sem tomar, já vem uma voz singela ao fundo e diz: “Bebe, cavalo.”. Aqui é diferente. O pessoal brinda (na zdraví; se fala tudo junto: nasdraví; e pode carregar nesse “í”; quer dizer “à sua saúde”), dá um toque com o copo na mesa e aí bebe. Podemos rever nossos conceitos. Globalização. Agora, um negócio que eu nunca tinha visto em lugar nenhum é tomar café e cerveja. Ao mesmo tempo! Logo que cheguei aqui entrei em um boteco (pivnice), sentei do lado de um cara no balcão, pedi (pedi! Kkkkkkk; apontei, mostrei escrito, sei lá) uma cerveja e fiquei lá, contando moscas. De repente o sujeito, que tava com um copão de Gambrinus (outra cerveja deles aqui), pediu um expresso e foi matando um gole de cerveja, um gole de café. Achei estranho pra caramba, mas pensei que o sujeito batia fora do bumbo. Não é que na minha ida para Pilsen vi um cara fazer a mesma coisa em um bar da estação ferroviária?!!! Uma vez, pode ser loucura individual, mas duas em pouco tempo? Será que fazem isso em casa? Vejo o pessoal comprando café e cerveja no supermercado. E tenho ido sempre ao supermercado, principalmente para comprar pão (que tem sido meu café da manhã, almoço e janta durante a semana toda); é mais fácil comprar no supermercado do que ir a uma padaria e ficar naquela “perrenga” com a mulher do balcão. Ponho na cestinha e boa. Tenho observado que ninguém faz aquelas compras enormes, de encher carrinho, como o Fernandão faz todo sábado no Carrefour. Eles até pegam o carinho ... (aqui vale uma observação: todo carrinho tem uma peça composta de uma trava e de uma corrente, sendo uma ponta presa na trava e a outra solta; essa ponta solta se encaixa na trava do outro carrinho quando vc coloca um dentro do outro; tá entendendo?; pra vc pegar um, tem que colocar uma moeda na trava pra liberar a corrente e soltar do carrinho da frente; a moeda fica presa dentro da trava do seu carrinho e quando o devolve no lugar e o prende novamente com a corrente, destrava o dinheiro; credo, que confusão!; olha a foto que achei que fica mais fácil; isso não é raro, mas a caipirada de Pacaembu, Paulo de Faria, Orindiúva, Bauru, Guarulhos, já viu...). Bom, voltando, eles pegam o carrinho e ficam “passeando” pelo supermercado e não pegam muita coisa (pegam bastante de um pãozinho bem ruim que tem em todo o mercado; acho que pra comer com sopa). É só o tanto para caber na mochila ou na sacola, retornável, do próprio supermercado; eu já tenho a minha. Isso provavelmente pq eles devem passar várias vezes por semana pra fazer compra. Muito comum eles pegarem isso e irem a pé, de ônibus ou de bicicleta pra casa. O transporte público é bem legal. Além de abranger bem a cidade, é barato (uma passagem para andar até 20 minutos custa R$ 1,20, mais ou menos) e o sistema funciona certinho. Eles têm uns totens nos pontos, que informam quanto tempo falta para o ônibus passar. Nota 10. Mas, usar bicicleta é também muito comum aqui; a cidade é bem plana. Geralmente, eles usam todos os equipamentos de segurança. Capacete (daquele pra ciclismo mesmo), pelo menos. Tem quem abusa e se veste como corredor com aquelas calças e camisas justas. E pra arrebentar de vez com a elegância, que já não se esbanja por aqui, eles metem aqueles grampos na boca da calça; detalhe: fluorescentes. Tá certo. Segurança. É bacana ver como de bicicleta eles sinalizam quando vão fazer qualquer curva. Sabe aquele negócio de levantar o braço esquerdo pra virar à esquerda, direito à direita. Comum, muito comum. E pode não vir ninguém na frente, ninguém atrás. Vai virar, braço pro lado. Bicicleta aqui é pra todos. Crianças, jovens, adultos e velhos. Homens e mulheres. Eles usam a bicicleta para tudo, mesmo com o frio vão trabalhar de bicicleta. No laboratório que estou, o pessoal chega de bicicleta, todo agasalhado (de manhã a temperatura está entre -2 e 2oC) e usando botas ou algum outro calçado pesado. Mas é entrar na sala de trabalho, eles se “descascam” e rapidinho tiram o sapato e metem os pés, com meias, num chinelão véio qualquer. É a coisa mais esquisita ver a senhora chefe do departamento com meia fina e um chinelo meia boca andando pelo prédio. Perguntei pq faziam aquilo e me disseram que era pelo conforto. E dá um trabalho, pq tira o sapato quando chega, põe de novo pra almoçar, tira depois do almoço e coloca de novo pra ir embora. Eu não agüentaria ficar abaixando e levantando assim. E o pessoal trabalha concentrado. Não se matam, mas trabalham bem. Hoje fui surpreendido. Eram umas 14:30h, meio do expediente, eu estava sozinho no laboratório preparando uma palestra que tenho que fazer, de repente entra o cara com quem estou trabalhando aqui. Todo aquele ritual do sapato, abaixa, levanta, (só de ver me dá labirintite), botou o chinelão e saiu da sala arrastando os pés. Daí a pouco ele voltou. Tinha duas garrafinhas de cerveja na mão; eram duas Samson, uma das marcas locais. Estendeu uma pra mim: “precisamos de um refresco”, disse. Diz o ditado: “quando em Roma, faça como os romanos”. Adaptei pra minha realidade: “quando na República Checa, faça como os checos”. Bebi tudinho! Acho que aqui pode. Ahoj.
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