Republica Checa 30/10/2011
Meus caros, aproveitei o fim de semana prolongado e saí para conhecer uma outra cidade. Dessas vez, Brno. É isso aí mesmo, não faltou nenhuma letra; eles pronunciam quase como “Brrrenó", quase; é um r forte e um e fraquinho. Nessa viagem tudo correu bem quanto à execução. Não fiz nenhuma grande trapalhada; estou falando das grandes pq as pequenas... Encarei quatro horas e vinte minutos de trem, com várias paradas, até chegar aqui. Ainda nas minhas “reparações” sobre os costumes locais, há um negócio que tem se repetido sempre. É entrar no trem e o povo faz “uma boquinha”. Do outro lado do corredor, sentou um casal. O cara era “estiloso”: quarentão, gordinho, com um bigodão e todo vestido de roupa militar (outra mania por aqui), bota e uma faixa na cabeça. A mulher parecia normal. Mal os dois sentaram, o Rambo já sacou da mochila camuflada um latão de Budvar, uns sanduíches e um saquinho com rabanetes e foi distribuindo. Achei que fossem pra Brno e as quatro horas e tanto de viagem, então, justificariam o lanchinho. Mas não deu nem meia hora e os dois desceram. Duas estações pra frente, casal de tios ocupa as mesmas cadeiras do outro lado do corredor. Quase não deu tempo de tirar o agasalho e a tia já estava preparando o rango e tio estalando a tampinha da lata de cerveja (não comeram rabanetes, mas também tinham um pacotinho na mochila que eu vi). Mesma coisa: desceram do trem duas ou três paradas depois. Vai ver que faz parte do cerimonial de viagem. Preciso entrar no clima na próxima viagem. Bem, resolvi visitar Brno pq é uma cidade próxima, maior e pertencente a outra região da RCheca, a Moravia. Junto com Bohemia (onde fica Cěské Budějovicé, a cidade onde “moro”) e Silésia Checa, compõe as três regiões históricas do país. Brno tem mais de 800 mil habitantes e é bem internacional; acho que ouvi mais inglês do que em todo o tempo em Budějovicé e parece que até escutei português! Ontem à noite,nem tão frio assim(9 graus C), vi bastante movimento de pessoas de lànpra ca,, alem de vàrios musicos tocando nas ruas (com o chapéu na frente). Vi uma dupla com uma das moças tocando flauta e a outra, um didgeridoo (aquele instrumento dos aborígenes australianos; um tubo enorme); diferente e legal. Pela primeira vez desde que estou aqui, comi carne de boi, um steak com manteiga de ervas, acompanhado por um copão de Starobrno (cerveja local e a “menos boa” que tomei) em um bar estilo medieval. Pra chegar no lugar é preciso descer um monte de degraus desde o nível da rua; dentro parece uma daquelas tavernas de filmes do Rei Artur. Comi, bebi e depois fui dormir; tinha passeios a fazer no dia seguinte. A história desta cidade começa lá pelo ano 1000 e tem sido regionalmente importante em vários períodos. Monumentos medievais não são raros aqui. Dos pontos que visitei, fiquei mais impressionado com o castelo (Hrad) Špilberk, uma construção original do século 13, que era casa de reis (sem aquele luxo dos castelos de outros lugares), mas foi transformada em forte em meados do século 17. Deve ter rolado muita barbaridade por aqui! Foi uma prisão para onde eram levados criminosos considerados perigosos; na parte de baixo do castelo (calabouço) dá pra visitar as celas onde os caras ficavam presos. E também tá cheio de instrumentos de tortura, que foram permitidos durante muito tempo (e com uso considerado justo para obter confissões). Tinha manual, ilustrado, escrito por especialistas com o “passo-a-passo” pra fazer caprichado. Coisa feia mesmo! Em um determinado período, os caras que confessavam ter cometido crimes hediondos (principalmente assassinatos) pegavam prisão perpétua e eram levados para um determinado tipo de cela, que quem durou mais por lá, agüentou um mês e meio. Morria mais rápido que se pegasse pena de morte! O castelo foi importante como prisão para civis até 1833, depois disso funcionou apenas como prisão militar, e até o pessoal de Hittler usou “as dependências”; Brno foi ocupada pelo governo nazista durante a Segunda Guerra. Hoje o castelo é utilizado para eventos culturais e está sendo reformado. Outro lugar legal é a Catedral de São Pedro e São Paulo (Katedrála svatého Petra a Pavla; acho que fizeram pra dois santos pra economizar na construção!). Toda medieval, é um dos pontos que mais chama a atenção por aqui. Os primeiros registros são do século 12, mas sofreu muitas transformações ao longo do tempo. Quando cheguei em frente à igreja, já vi um movimento esquisito.Com minha perspicácia luso-brasileira, prontamente saquei que ia rolar um casamento, pq de dentro de um Škoda branco (é a marca de carro mais popular aqui, afinal é checa), sem muita cerimônia, saiu a noiva. Logo chegou um cara de vestido branco (parecia ajudante do padre) e começou a falar com ela e com, acho, seu pai. Conversa longa! Tava demorando pra desenrolar a ação e resolvi entrar pra ver a igreja. O interior é gótico e o vitral ao fundo do altar chama a atenção, pq é grande e muito colorido. Fiz umas fotos e fiquei um tempinho admirando a arquitetura e as obras de arte, até que resolvi sair antes que o casamento começasse. Não deu tempo de me levantar direito e começou a entrar um monte de gente. Fiquei meio de lado na porta, com vergonha de sair no meio dos ternos, sobretudos e vestidos de festa; esperava que passassem para eu seguir meu rumo. Que nada! Todo mundo parou na porta com o aprendiz de padre fazendo uma “palestra” pra eles. Não bastasse a galera, a noiva também já estava em pé um pouquinho antes da porta. Aí eu fiquei sem saída mesmo. A “palestra” do rapaz durou alguns longos minutos. Pensei que a coisa fosse andar e ele resolveu dar outra “palestra” para a noiva (vai gostar de falar assim lá longe!). Acabou, tudo certo, pensei, agora vai. Aí vem o padre titular, conversa com o noivo (que estava lá na frente), conversa com o povo e conversa com a noiva. Eu já estava transpirando, imagina a noiva esperando todo esse tempo! Aí foi. Todo mundo começou a entrar, com o padre puxando a fila. Ele e o noivo foram para o altar e a galera formou duas filas perto dos bancos (como um corredor polonês). Soltaram a música e só aí a noiva começou a andar entre os convidados. Ufa! Ela passou, o povo se sentou e o casamento rolou. Nisso já devia ser umas três da tarde. Eu sem comer nem beber nada desde às 8:00h. Fui andando pra ver se encontrava alguma “lanchonete” e não demorou muito pra achar o que queria. Uma portinha com fast-food de comida checa. Estava escolhendo com base no menu gigante na porta do lugar e tinham dois caras fazendo o pedido. Logo pensei no bramborák, a panqueca de batata (já falei dela aqui; é bem comum e gostosa). Por coincidência, um dos sujeitos pediu a panqueca e facilitou minha vida: falei bramborák e apontei pro prato do rapaz; acabei escolhendo os mesmos acompanhamentos por tabela. Na hora, a senhora se virou para o freezer e tirou quatro panquequinhas. Bate aqui, solta ali, jogou tudo na fritadeira; dois minutos depois, meu prato estava pronto. Vi que tinha “cola” pra beber; vejam bem, apenas “cola”. Já desconfiava que essa cola não fosse a “coca”, mas pedi mesmo assim. Na hora, ela sacou uma garrafinha de RC cola (deve ser do Roberto Carlos) de debaixo da mesa e me deu; pensei em argumentar (kkkkkkkkkk), pedir uma gelada, mas tô meio sem fôlego pro tanto de mímica que ia ser necessário; o dia estava fresco mesmo! Ela cobrou e tudo ficou em 60 coroas (uns 6 reais). Eu já estava meio desiludido com a RC cola (que tava uma brasa, mora?), mas tudo ficou certo quando comi os bramborák. Como eles estavam quase completamente congelados por dentro, todas as temperaturas se equilibraram. Vai ser com quem? Germano? Não, tem que ser comigo! Por hoje chega. Outra hora conto mais. Ahoj.
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